01 setembro 2009

OS SACANAS SEM LEI DE TARANTINO


O que me levou a regressar a este blogue e escrever estas linhas foi “Sacanas sem Lei”, o mais recente delírio de Quentin Tarantino. Como tem acontecido em algumas das anteriores obras do cineasta americano, é um daqueles filmes que os seus críticos vão odiar e os fãs venerar. O realizador de “Pulp Fiction” tem destas coisas. Uma das principais críticas feitas a “Sacanas sem Lei” é a falta de rigor histórico do argumento. Realmente o filme é de fazer arrepiar qualquer historiador que se preze. No entanto a intenção do autor de “Reservoir Dogs” não era de fazer um filme histórico mas sim uma ode ao cinema, tendo como pano de fundo a França ocupada durante a II Guerra Mundial. Já nos habituámos às constantes referências cinematográficas nos filmes de Tarantino mas “Inglourious Basterds” é ele próprio uma pequena homenagem à história da sétima arte.

A belíssima sequência inicial tem um plano que recorda os velhos westerns olhamos para aquela casa isolada e esperamos ver surgir ao longe um grupo de cavaleiros prontos a destruir tudo à sua volta. No filme de Tarantino em vez de cavaleiros temos os soldados nazis liderados pelo Coronel Hans Landa, protagonizado por um fabuloso Christoph Waltz, sem dúvida o melhor de todo o filme. A sua missão é de encontrar judeus escondidos entre a população que tenham conseguido escapar às anteriores deportações. Hans Lada é um oficial da Gestapo, duro, cruel, cínico mas muito pragmático. Os melhores diálogos do filme estão mesmo a seu cargo.

Brad Pitt, É o galã de serviço, tem pouco de charmoso, é um campónio abrutalhado com sotaque do Tenessee, sangue apache e sedento de sangue nazi. Ele constitui uma unidade especial constituída por judeus que vai aterrar na França ocupada com o único intuito de massacrar e escalpar soldados nazis. O nome da personagem de Pitt é Aldo Raine, uma óbvia referencia ao actor Aldo Ray (1926-1991) que curiosamente cumpriu serviço militar na Marinha Americana durante a II Guerra Mundial.


No entanto as referências cinematográficas não se ficam por aqui, O Tenente Archie Cox (Michael Fassbender) é crítico de cinema especializado no cinema de Weimar. Esta foi a grande época de ouro do cinema alemão que compreende o período entre as duas guerras. O filme de Tarantino cita especialmente Georg Pabst (1885-1967) o realizador de A Buceta de Pandora de 1929. Pabst e Riefenstahl (1902-2003) são referências recorrentes em todo o filme.

O argumento é simples: O Tenente Archie Cox tem por missão aterrar em França para se juntar aos “Basterds”, e aliados a uma estrela do cinema alemão, vão mandar pelos ares o cinema onde se encontrarão todas as altas figuras do regime nazi, incluindo o próprio Führer.

Finalmente a banda sonora, sempre importante nos filmes do realizador americano, não deixa de ser ela também, uma homenagem ao próprio cinema. A maior parte dos temas evocam os velhos westerns de Sérgio Leone (1929-1989) através da música de Ennio Morricone. A sequência inicial surge ao som de “The Green leaves of Summer” música do filme “The Alamo” (1960), interpretado e realizado por John Wayne (1907-1979). Finalmente aquela que na minha opinião é a melhor música de todo o filme: “Cat People Putting out the Fire” de David Bowie, tirada do filme “Cat People” (1982) de Paul Shrader.